30 de janeiro de 2009.
Era para ser uma sexta feira qualquer, como várias outras. Enquanto minha namorada estava morando em São Paulo, tive a oportunidade de ir morar sozinho. Não foi a melhor experiência do mundo, além disso não ser o foco desse texto.
A noite resolvi passar na casa da minha tia, dar um oi e ver como andavam as coisas. Fique a observação de que, naquela época, eu era um feliz proprietário de uma Honda Biz, que me trouxe muitas alegrias até esse fatídico dia.
Ao sair da casa dela, peguei a principal avenida da região, que por sinal chama-se Kennedy. Ironia ou não, segui faceiro com a bizoca barulhenta. O transito estava livre, salvo um pedaço da avenida onde estava um
caminhão do corpo de bombeiros, pois havia pego fogo em algum lugar por ali.
caminhão do corpo de bombeiros, pois havia pego fogo em algum lugar por ali.
Segui meu caminho.
Entrei a direita em outra avenida famosa de Curitiba, a Marechal Floriano, seguindo sentido centro. A partir desse momento, meu dia, meu fim de semana e os próximos seis meses seriam alterados por uma brincadeira de Murphy. Uma simples brincadeira.
Ao cruzar algumas ruas, com os semáforos abertos para mim, um cruzamento, justo o com a Engenheiros Rebouças, observei que os carros da rua citada estavam parados (eu, como um bom motociclista, sempre observo os cruzamentos antes de passar, evitando assim ser atropelado mesmo com o sinal aberto para mim!), retomei a aceleração e eis que algo me atinge.
Vou ser sincero, não lembro de muita coisa, apenas um vulto saindo de trás de um poste. Lembro de estar deitado no chão falando com a minha mãe ao celular e depois já dentro da ambulância com a minha tia.
Bom, fiz uma viagem e tanto. Dor, misturado a alucinações, palavras aleatórias, sirene, médico e o estado de choque.
Fiquei mais lucido ao chegar ao hospital (um tal de Hospital Cajuru!) fui direto para o corredor.
Legal, todos que passavam por mim me olhavam assustados, logo pensei “devo estar muito fodido e não sei e/ou sinto”, claro sofri um acidente de moto, estava todo ralado, com duas tábuas no braço esquerdo e com o
braço direito todo inchado.
braço direito todo inchado.
Senti um vento gelado nas partes baixas, após um ~ poker face ~, percebi que havia um lençol branco, semitransparente, sobre mim e que eu estava nu. “Agora todos olhando para mim faz sentido!”. Puta merda! Eu estava pelado, em uma emergência de hospital universitário e parado no corredor. Lógico que chamei a atenção de qualquer um que passava por ali.
“Bom, já estou ferrado mesmo, então foda-se!”
Dali por diante eu passei a sorrir para todos que me olhavam, foi engraçado ver a reação das pessoas. Alguns estavam ali esperando algum parente ou amigo, ou com algum problema consigo e eu ali, todo estrupiado sorrindo para a galera.
Ai veio a primeira enfermeira (ou estagiária de medicina, sei la.), sorriu para mim e perguntou “Acidente de moto né?”. Respondi prontamente que sim e que provavelmente tinha atropelado alguém, naquele momento não lembrava muita coisa do momento do acidente.
Ela me levou até uma sala da emergência, essa era um pouco mais “reservada”. Fiquei ao centro. Do meu lado direito tinha uma senhora, ora gemia, ora vomitava, mas no intervalo disso ela conversava com um rapaz, que se encontrava ao meu lado esquerdo. Ele, aparentemente embriagado, estava razoavelmente bem, apesar de parecer um morador de rua (após um tempo descobri que se tratava de um.) e estava agitado.
“O que houve com o senhor?” - falou a moça, gemendo logo em seguida.
“Fui atropelado por um motoqueiro...”
“CARALHO!! Esse foi o infeliz que cruzou a rua? Bêbado ainda por cima! E eu aqui preocupado com o desgraçado!” - pensei, injetando mais uma dose de adrenalina natural em meu corpo.
E a moça, insistente, ainda pergunta: “Será que não foi esse rapaz ai do seu lado?”
“VACAFILHADIUMAPUTA!!!!!!” - gritei mentalmente, torcendo que o bêbado não viesse me encher o saco.
“Não xxxeeeiii! Quero ir embora dessa merrrrda de hospital!”
Pronto! Que se apegue ao hospital e me deixe em paz.
Olhei para ele uma última vez, vi o desgraçado em pé e pentelhando as enfermeiras e quem mais cruzasse o seu caminho.
“Santo de bêbado é forte mesmo, eu aqui todo quebrado e o filho da mãe ali, em pé querendo ir embora...”
Nesse momento entra um outro rapaz na maca, gemendo baixo e quase não se movia. Ouvi apenas “Esse é baleado! Levem rápido para a cirurgia...”, pensei “Ééé...estou melhor do que ele.”.
Mais um passeio pelos corredores do hospital após o último acontecimento e eis que, após minha mãe chegar ao hospital, com a carteirinha do plano de saúde me levaram a uma ala individual, tranquila, serena e sem
pessoas observando minha total falta de vestimentas.
pessoas observando minha total falta de vestimentas.
Mas eis que meu carma continuou e adentrou na sala um rapaz, provavelmente enfermeiro, trazendo uma bacia, panos e uma pomada. Ele cumprimenta minha mãe virá pra mim e fala “meu amigo, precisamos limpar os seus ralados.”. EU TINHA ESQUECIDO DOS RALADOS! Nesse momento sinto dor novamente e, com um breve sorriso, ele continua.
“Você prefere com pomada ou sem pomada?”
“Epa, perai meu amigo, que negócio é esse de pomada?”
“É apenas um anestésico, vai ajudar a não doer na hora de limpar, o único problema é que arde demais quando passa, por isso perguntei sua preferencia.”
Bom, pomada anestésica pode me ser útil e nem deve arder tanto assim.
“Pode passa a pomada!”
No primeiro momento, você sente um leve ardor, que se intensifica, mas nada insuportável e, após um ou dois minutos, é feita a limpeza, praticamente sem dor. Legal. Foi assim com as pernas, braços, mas quando chegou nas costas veio o problema, estava muito mais ralado que nas outras partes. Sendo assim o rapaz resolveu que iria fazer metade e depois a outra metade. Ok.
No primeiro momento veio aquela queimação já conhecida, mas ela foi aumentando cada vez mais, até chegar ao ponto de ser insuportável. Resmungava de dor, mas não tinha muito a ser feito. Logo a dor cessou e a limpeza foi feita, mas ainda faltava a droga da outra metade! Bom o resultado foi o mesmo.
Após isso me encaminharam a uma sala de radiografia. Finalmente saberia quantos ossos eu havia feito a proeza de quebrar. Uma enfermeira velha e escrota estava lá, operando aquele maquinário maligno. Ela achou que eu conseguia andar e ir até a cama da radiografia. Fiquei com vontade de rir, mas ela empurrou minha maca até lá antes disso.
“Role para a outra maca!”
“O que?!”
“Vamos rapaz, eu não tenho muito tempo para ficar aqui!”
Senti um empurrão brusco, uma forte dor nos, recém limpados, ralados nas costas e literalmente rolei para a outra maca. Depois da tortura de tirar Ns raio-x e ser constantemente torturado pela megera, que queria que eu ficasse em posições impossíveis naquela situação, fui encaminhado até a sala de tomografia. Lógico que aquela montueira de xerox do meu corpo não era suficiente, eles queriam mais. E assim fui até aquela maquina esquisita, onde tinha de ficar alguns bons segundos sem respirar e me mexer. Segundos que pareceram longos minutos, já que a dor voltava a ser decifrado pelo meu cérebro.
Liberto da tortura, fui encaminhado até um quarto limpo, arejado e, acreditem, com uma TV! Senti-me aliviado, pois grande parte da tortura havia acabado. Já estava sem o protetor cervical, fora dos corredores e com a minha mãe. Não sei quanto tempo decorreu tudo isso, mas já era altas horas da madruga.
Após uma conversa superficial sobre o que tinha acontecido, um médico adentra na sala, explicando que teriam de fazer uma cirurgia no meu braço e blah, blah, blah....
Fui passear novamente pelos corredores claustrofóbicos do hospital.
Cheguei no andar de cirurgia e me largaram em mais um corredor, esse era vazio e silencioso. Lembrei de um episódio de Silent Hill, quando você fica surtando nas alucinações dentro do hospital.
De longe uma figura vagava em minha direção. Pensei que pudesse ser um Smurf sangrando, mas era uma médica, com seu uniforme azul e, pasmem, TODA ensanguentada. Pronto meus amigo, estou no abatedouro do hospital e não me avisaram!
Lógico que estar ali nunca é bom, mas ver essa cena me fez sentir um frio na barriga.
Já na sala de cirurgia, uma simpática assistente conversava comigo coisas aleatórias, provavelmente para ver meu estado de lucidez enquanto ela aplicava medicamentos e a anestesia. Papo vai e papo vem. Apago.
Acordo com uma sensação estranha, estava ainda deitado na sala de cirurgia. Ouvia o barulho do equipamento que acompanhava meus batimentos caridiacos, cada bip era calmo e tranquilo. Olho para o lado direito e não vejo ninguém, olho para o esquerdo e havia uma manta azul, impedindo que eu olhasse meu braço, conseguia distinguir duas pessoas, não sei se médicos ou enfermeiros perdidos ali. Foi então que percebi que ainda estava em cirurgia e que o efeito do anestésico havia passado ou estava para passar, pois acordei em meio a cirurgia. Meus batimentos aceleraram, senti a adrenalina correr no meu sangue e vi a enfermeira olhar para mim, dizer algo as pessoas que não consegui entender e abrir uma válvula no soro que me fez adormecer novamente.
Acordei no quarto, com ambos os braços engessados e um saldo de platina e diversos pinos no antebraço esquerdo, três pinos na mão esquerda com direito a reconstrução, mão direita quebrada em dois lugares diferentes e ralados pelo corpo todo, fora 3 dias de internação e 6 meses de afastamento do trabalho.
Pelo menos agora meu braço vale um pouco mais.
5 comentários:
Hahahaha...muito foda!
O Murphy não perdoa mesmo, nem eu!
Que história é essa???
"Vou ser sincero, não lembro de muita coisa,apenas um vulto saindo de trás
de um poste...de longe uma figura vagava em minha direção...adentrou na sala um rapaz, provavelmente enfermeiro...que queria que eu ficasse em posições impossíveis...acordo
com uma sensação estranha, estava ainda deitado na sala...fora 3 dias de internação e 6 meses de
afastamento do trabalho."
Essa arte de manipular frases não é fácil viu! Coisa de jornalista mesmo...
Eu não acrescentei nada, somente ajustei o texto com as suas palavras! hahaha
Nossa! Que história trágica. Poderiam ter colocado algo de adamantium em você, né? Seria legal!
A história do Chaves é mais engraçada, pelo menos =D
Seria legal se colocassem adamantium...eu seria o Sayronrine...
Que piada mais tosca essa minha...
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